Um era preto, o outro, amarelo.
Um fazia peripécias que
o outro não fazia de jeito nenhum.
Ambos nos alegraram,
ambos nos conquistaram;
nos deram trabalho também,
e alguns aborrecimentos, além,
mas quem não dá?
Um, logo de pequeno,
já sabia sentar-se e cumprimentar,
deitar, rolar e em pé ficar.
O outro demorou a aprender,
porém, com o tempo,
destas coisas, só não deitava e rolava;
inclusive, ia pra casinha
ao ser solicitado,
e aquele um, fazia o mesmo.
Agora, objetos que a gente atirava,
os dois não buscavam.
Quando saíamos a passear,
ao ser solto da coleira,
um desembestava a correr pra todo lado,
quase a perder-se nos caminhos
e nas trilhas do mato.
Já o outro, ah, o outro,
era igual.
Então a gente chamava,
ia atrás e bronqueava,
de imediato, voltávamos para casa,
pra ver se aprendiam a lição.
Mas, nada.
Na próxima vez, repetiam a confusão.
Um se chamava Neguinho,
o outro, Franjinha.
Um viveu doze anos,
o outro, chegou a quatro.
Os dois nos alegraram.
Um, quando resolveu partir,
foi depressa,
talvez porque tenha ficado mais tempo.
O outro, foi lentamente,
e mais sofrido,
talvez porque tenha ficado tempo de menos.
Não chegaram a se conhecer,
nem sei se isso acontecerá.
Penso que tenho que fazer
o melhor que posso nesta vida,
para melhorar espiritualmente,
para ser digno da amizade deles,
onde quer que estejam,
no céu dos cachorros.
Um era preto,
o outro, amarelo.
Ambos coloriram
o viver em nossa família,
quando por aqui passaram.
J.R.Jerônimo
03.07.2016