O trânsito que existe nas ruas, avenidas, vias expressas e rodovias da cidade de São Paulo e das cidades que lhe dão acesso, é caótico. E isto não é nenhuma novidade, todos estamos cansados de saber, e mais cansados ainda, de conviver com este trânsito. Os congestionamentos cada vez maiores e mais frequentes estão tornando as vias públicas, em determinados horários, mais estacionamentos e menos vias de tráfego.
Mas, dá pra melhorar?
Vamos ver!
Usamos como referência aqui, a capital paulista, mas o exemplo serve para todos os grandes centros urbanos.
Destine alguns minutos e observe, numa destas vias, qual a quantidade de ocupantes que cada automóvel leva. Você pode fazer isso da janela do local em que trabalha ou a partir do automóvel ou do ônibus em que viaja. Provavelmente, com pouca diferença, você verá o mesmo que eu vejo todos os dias. Ou seja, a maior parte dos automóveis tem apenas um ocupante. A frequência é mais ou menos assim: de cada dez automóveis, cinco levam um ocupante cada - que é o próprio motorista -, três levam dois ocupantes cada e dois automóveis levam três ou mais ocupantes cada. Na média, cada automóvel, leva um ocupante e oito décimos.
5 x 1 = 5
3 x 2 = 6
2 x 3 ou mais = 7
Total = 18 (pessoas) / 10 (automóveis) = 1,8 pessoas, na média, por automóvel.
Tomando-se por base um congestionamento de dez quilômetros (ou 10.000 m), que aqui vamos considerar que fosse apenas de automóveis, para sermos mais objetivos em relação a esta pequena tese, teremos:
Automóveis
4 m = comprimento médio dos automóveis.
3,5 m = distância média, em função de que cada motorista deve manter espaço suficiente para que veja os pneus traseiros do veículo que vai à sua frente, em trânsito de parada e retomada.
7,5 m = total de espaço médio, em relação ao comprimento, que um automóvel ocupa na pista.
10.000 m / 7,5 m = 1.333 = quantidade média de automóveis no espaço de dez quilômetros.
1,8 = quantidade média de pessoas por automóvel.
1.333 x 1,8 = 2.400 = quantidade média de pessoas, dentro dos automóveis, no espaço de dez quilômetros.
Ônibus
12 m = comprimento médio de um ônibus coletivo.
3,5 m = distância média, em função de que cada motorista deve manter espaço suficiente para que veja os pneus traseiros do veículo que vai à sua frente, em trânsito de parada e retomada.
15,5 m = total de espaço médio, em relação ao comprimento, que um ônibus ocupa na pista.
10.000 m / 15,5 m = 645 = quantidade média de ônibus no espaço de dez quilômetros.
42 = quantidade média de pessoas, sentadas, que cabem dentro de um ônibus.
645 x 42 = 27.090 = quantidade média de pessoas, dentro dos ônibus, no espaço de dez quilômetros.
Comparação direta entre automóvel e ônibus
Num espaço de dez quilômetros:
Os automóveis, pela média verificada, têm transportado: 2.400 pessoas
Os ônibus levariam: 27.090 pessoas = 11,3 vezes a capacidade dos automóveis.
Se tomarmos a quantidade média verificada de pessoas, levadas pelos automóveis, cuja ocupação da pista seja a de dez quilômetros, e a colocarmos nos ônibus - 2.400 (pessoas nos automóveis em 10 km) / 42 (pessoas por ônibus) x 15,5 m (comprimento ocupado pelo ônibus) -, a ocupação da pista seria de 0,886 quilômetro.
QPA/10km / QPO x 15,5m = kmO
Ou seja: para o transporte de 2.400 pessoas, o ônibus ocuparia apenas 8,86% do espaço que o automóvel ocupa.
Já, se tomarmos a quantidade de pessoas levadas pelos ônibus, cuja ocupação da pista seja a de dez quilômetros - 42 (pessoas por ônibus) x 645 (ônibus em 10 km) = 27.090 pessoas -, e a colocarmos nos automóveis com base em sua lotação média verificada - 27.090 (pessoas nos ônibus em 10 km) / 1,8 (pessoas por automóvel) x 7,5 m (comprimento ocupado pelo automóvel) -, a ocupação da pista seria de 112,9 quilômetros.
QPO/10km / QPA x 7,5m = kmA
Ou seja: para o transporte de 27.090 pessoas, o automóvel ocupa aproximadamente 1.129% do espaço que o ônibus ocuparia.
QPA = Quantidade (média verificada) de Pessoas por Automóvel
QPO = Quantidade de Pessoas por Ônibus
kmA = Quilometragem com Automóvel referente à quantidade de passageiros dos ônibus em 10km.
kmO = Quilometragem com Ônibus referente à quantidade média verificada de passageiros dos automóveis em 10km.
Numa comparação rápida entre automóvel e trem, considerando o mesmo trânsito referido acima, quer dizer, um congestionamento, cuja velocidade não ultrapassa a 20 km/h, 2.400 pessoas, em seus automóveis, percorrem a cada 30 minutos a distância de 10 km, e 4.800 pessoas a cada hora.
Ao passo que o trem no sistema monotrilho, tomando-se como exemplo a Linha 2 Verde, Prolongamento Vila Prudente - Cidade Tiradentes, em São Paulo, se move a 40 km/h e transporta 48.000 pessoas por hora por sentido, num percurso de 23,8 km. O que, para 20 km, levaria 40.336 pessoas por hora. Ou seja, este trem tem 8,4 vezes a capacidade dos automóveis. Além do que, deve-se considerar que as vias no sistema monotrilho são elevadas do chão a aproximadamente 12 e 15m, o que possibilita o trânsito de veículos e pedestres sob suas linhas.
Paralelamente a isto, a frota de São Paulo não para de crescer. Apenas considerando "automóveis", segundo registro do Detran-SP, em jan-2000, eram 3,91 milhões. Em jan-2010, 4,97 milhões. Um aumento de 1,06 milhões, correspondendo a 27%, quase um terço, em 10 anos. Sendo 220 mil veículos só no último ano, de jan-2009 a jan-2010, representando 5% de aumento em relação à frota total de automóveis.
Já no período de jan a abr-2010, 69.945 automóveis foram acrescidos. Na média são 17.486 por mês e 583 por dia. Veja que não estou falando de lacração de veículos novos, senão os números seriam maiores do que estes. Minha base de referência é a divulgada pelo Detran relativo às frotas totais em cada período, na cidade, que considera os veículos novos lacrados menos os retirados de circulação, de forma que os números aqui citados representam as quantidades reais de automóveis nas ruas.
Confrontando o número de habitantes em 2009, segundo o IBGE, com a frota de automóveis, também em 2009, segundo o Detran-SP, temos aproximadamente 1 automóvel para cada 2,2 habitantes, na capital paulista.
Em abr-2010, a frota de automóveis é de 5,02 milhões.
Segundo estudo elaborado pelo "Movimento Nossa São Paulo", com base nas informações da CET - Companhia de Engenharia de Tráfego, a média de congestionamento no ano de 2000 foi: de manhã 20,4 km e de tarde 19.4 km. Enquanto que, em mai-2010, as médias saltaram para 80 km de manhã e 115 km de tarde.
Não há vias que se modernize para tal acréscimo de automóveis. A única solução para o ir e vir da grande maioria das pessoas é o aprimoramento urgente do transporte coletivo.
Agora, como promover a mudança?
Urgentemente precisamos de mais e melhor transporte coletivo, através de metrô, trem e ônibus. Sendo este último, o que mais resulta no curto prazo, no imediato, já, para amenizar o mal presente. Enquanto que o metrô e o trem devem ser paralelamente instalados para, num futuro o mais próximo possível, poderem realmente tornar melhor e mais humano o nosso ir e vir. Porque, de imediato, não podemos dizer que qualquer ação consiga este feito, senão o de, pelo menos, tornar menos pior. Neste sentido, acho que o ônibus é a solução mais imediata.
Mas por que os donos das empresas de ônibus não colocam, então, mais ônibus nas linhas? Será que esperam que os usuários de automóveis deixem seus veículos em casa, para que seus ônibus tenham menos trânsito para realizarem mais viagens em cada dia? Isto tem sentido. Ou esperam que os usuários de automóveis deixem seus veículos em casa para que eles, os empresários de ônibus, tenham uma quantidade ainda mais caótica de passageiros para seus coletivos? O que não teria sentido.
Por outro lado, será que as pessoas que viajam de automóvel só deixarão seus veículos em casa, para irem de ônibus, se tiverem mais coletivos nas linhas, a ponto de poderem ir com mais conforto? Não será natural que queiram esta troca somente quando ela significar que não serão mais uma pessoa a apertar-se e a acotovelar-se nos superlotados ônibus da cidade?
A iniciativa tem que acontecer por parte de alguém. Seja através de um movimento da própria sociedade, por meio de associações, cooperativas, comissões, sindicatos, etc., seja por meio de uma ação de gestão de política pública. Onde os vários interesses devem ser considerados, mas principalmente o da população.
Não é inteligente que nós, como sociedade, deixemos a situação chegar no limite, para termos a iniciativa de unirmo-nos para exigir medidas - e também sugerir e apontá-las - e fazermos acontecer as mudanças, que corrijam este enorme erro no transporte e no trânsito em nossas cidades.
J.R.Jerônimo, 03.06.2010.